Honda E-Clutch – Testámos a revolucionária embraiagem eletrónica
Até à data temos assistido a várias soluções adotadas por diferentes marcas em dotarem alguns dos seus modelos com sistemas de caixa automática ou de acionamento da mesma sem utilização da manete de embraiagem.
No caso da Honda tem existido uma aposta clara nesse sentido e vários dos seus modelos, de diferentes segmentos, adotam sistemas de dupla embraiagem, a conhecida caixa DCT, que permite, de forma automática ou manual mas sem manete de embraiagem, a troca de velocidades na caixa em ambos sentidos.
Mais popular e adoptado pela maioria das marcas tem sido o sistema Quickshift que aciona automaticamente a embraiagem por pressão no pedal das mudanças e permite trocar de mudança sem utilização da embraiagem. Existem diferentes tipos de sistemas de QuickShift, uns que apenas funcionam num sentido e outros em ambos os sentidos. Estes sistemas tendem a funcionar melhor nas rotações médias e altas e de forma menos eficiente nas rotações mais baixas.
O novo sistema E-Clutch tem como objectivo proporcionar uma experiência de condução diferente, que privilegia uma maior suavidade de acionamento da caixa e uma maior flexibilidade na sua utilização, permitindo ligar a moto arrancar e passar caixa sem usar a manete de embraiagem.
A experiência que tivemos com as CB650R e CBR650R de 2024, nas suas versões que utilizam caixa E-Clutch, foi surpreendente. Durante a apresentação levada a cabo pelos técnicos da marca no dia anterior deixou-nos algo curiosos sobre o seu desempenho, sobretudo face aos sistemas já conhecidos de caixa DCT e/ou com QuickShift.
A nossa curiosidade foi plenamente satisfeita no dia a seguir, com recomendações no local por parte dos engenheiros responsáveis pelo desenvolvimento do sistema E-Clutch para que evitássemos utilizar a manete de embraiagem e fazermos pleno uso das capacidades do novo sistema, tentando mudar o chip e controlando a tentação de deitar a mão à mante de embraiagem. Nota sobre esta realidade é que ao acionarmos a manete de embraiagem desligamos de imediato o sistema E-Clutch passando a moto a funcionar de uma forma tradicional com embraiagem manual. O sistema eletrónico reactiva-se automaticamente após 2 segundos se deixarmos de acionar a embraiagem.
No arranque, para realizarmos o percurso definido de cerca de 170 Kms, foi o momento crucial de contacto com a nova tecnologia. Sob o olhar atento de uma extensa equipa de técnicos japoneses, que tinham insistido para não utilizarmos a embraiagem, arrancámos a moto colocada em ponto morto, e com alguma relutância, sem tocar a embraiagem, pisámos o pedal das mudanças para engatar a primeira velocidade. Ao fazê-lo sentimos o “clack” normal de uma mudança a entrar sem que a moto avançasse ou mesmo sentíssemos algum tipo de reação. Logo de seguida, com a mão bem fechada no punho esquerdo, para melhor esquecer a utilização da manete de embraiagem, acelerámos progressivamente para aquilo que viria a ser uma experiência tecnológica singular e de constatação do excelente funcionamento do sistema E-Clutch.
As passagens de caixa são perfeitas a qualquer nível de rotação e em qualquer dos sentidos, sentindo inclusivamente ligeiras subidas de rotação nas reduções para melhor entrar a mudança abaixo. Tal como os sistemas de Quickshift, a passagem de caixa é feita sem que seja necessário desacelerar. A rodar rápido e a atacar as curvas encadeados num percurso de montanha, constatamos mais uma vez o excelente desempenho do sistema, proporcionando reduções suaves e sem ruídos, se bem que muitas vezes caía na tentação de realizar um pequeno golpe de acelerador para que a mudança abaixo entrasse melhor, ( hábitos difíceis de controlar ) mas sem usar a embraiagem, mas que ainda assim o sistema parecia saber gerir bem essa tendência “old school” do piloto.
Do ponto de vista técnico e prático o sistema E-Clutch parece combinar o melhor dos 3 mundos, combinando com perfeição a embraiagem tradicional com os sistema DCT e Quickshift, proporcionando uma condução descontraída e divertida uma vez que nos habituamos ao seu funcionamento.
Mas como funciona então este novo e revolucionário sistema ?
A gestão do funcionamento da embraiagem E-Clutch é realizada por dois motores que são controlados pela unidade MCU ( Motor Control Unit ). O sistema MCU recebe informação do ECU ( Electronic Control Unit ) que reúne informação relativa a várias funções nomeadamente, a pressão colocada no pedal das mudanças, a posição da caixa, a posição do acelerador, as rotações do motor e a velocidade a que rodamos.
Com base em toda a informação fornecida pelo ECU a unidade MCU controla com precisão a intervenção da embraiagem. Isto sempre que o sistema este On pois, tal como referimos anteriormente, se acionarmos a mante de embraiagem o sistema desliga-se automaticamente. Paralelamente podemos também no painel colocar em Off o sistema E-Clutch e rodarmos com embraiagem tradicional. A vantagem de estar On é que podemos rodar das duas formas automaticamente e a qualquer momento. Neste caso permite-nos, em manobras que exigem maior precisão de acelerador, poder a qualquer momento usar a embraiagem. No painel TFT um LED do lado direito indica que o sistema E-Chutch está activo.
No final do teste, levado a cabo por convite da Honda em Marselha, ficou claro que o novo sistema de embraiagem eletrónica E-Clutch funciona de forma surpreendente, proporcionando passagens de caixa nos dois sentidos super precisas e suaves, ao nível das melhores caixas com Quickshift, permitindo que aumentar o nível de concentração na nossa condução.
A flexibilidade do sistema permite a qualquer momento que o piloto tome controle do acionamento da embraiagem garantindo a estabilidade que eventualmente entenda necessária num momento determinado. O sistema permite ainda selecionar diferentes tipos de sensibilidade no seu acionamento ajustando eletronicamente a resistência do pedal em 3 níveis.
Finalmente podemos concluir que o sistema E-Clutch representa uma interessante evolução tecnológica em termos de embraiagem eletrónica, de simples e prática utilização, acessível a todos os níveis de experiência de qualquer condutor, sendo um sistema alternativo aos atuais DCT e Quickshift, com um desempenho mais interessante e preciso do que estes últimos, na nossa opinão e com uma vantagem económica já que é um sistema menos oneroso, tendo em conta a diferença de preço entre as versões standard e as versões com E-Clutch de cerca de 300 eur.
Resta a dúvida de como irá reagir o mercado a esta nova proposta tecnológica da Honda e que outros modelos no futuro veremos a adoptar a embraiagem E-Clutch, nós no final da apresentação sugerimos aos técnicos japoneses que fosse a Transalp.
Em relação aos dois populares modelos que montam o novo sistema E-Clutch, a bem sucedida Neo Sports Café CB650R e a desportiva CBR650R, abordaremos em artigos distintos a experiência que tivemos com ambas.
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