Qianjiang: O gigante chinês que é dono da QJ Motor
Na Europa o nome Qianjiang foi praticamente desconhecido até 2016. No entanto, uma marca histórica como a Benelli e Keeway já nesse ano faziam parte do portfólio do poderoso grupo asiático, que se prepara para estender ainda mais as suas garras com a jovem marca QJ Motor.
Criado em 1971, o Grupo Qianjiang tem o nome de batismo da cidade de mesmo nome, localizada na província de Hubei e que tem 1 milhão de habitantes. A sede do Grupo situa-se no distrito de Wenling, a cerca de 500 quilómetros de Xangai, na China. Esta sede tem uma fábrica que emprega mais de 14.000 pessoas e abrange uma área de 670.000 metros quadrados. O Grupo tem hoje unidades de produção em todos os continentes e não produz apenas veículos de duas rodas. A Qianjiang tem marcas especializadas em quads, veículos para pessoas com mobilidade reduzida, ferramentas de jardim, compressores, electrodomésticos e bombas. No lado das duas rodas, a Qianjiang começou a sua atividade com uma gama de scooters e motos de pequena cilindrada, de 50 a 250cc. Eram à época modelos rudimentares, cujo design muitas vezes era extraído de modelos europeus de sucesso que vendiam como pão quente na China.
50 milhões de motos por ano
Empresa estatal quando foi fundada, o acionista maioritário era originalmente o município de Wenling. No entanto, antes de 2005, a empresa malaia Gold Lion Steel entra como acionista da Qianjiang e na Bolsa de Valores de Shenzhen. A partir de então, a Qianjiang desenvolve a sua distribuição internacional em cerca de quarenta países. Hoje, a Qianjiang está classificada entre as 50 principais indústrias de engenharia do mundo. No setor das duas rodas, as suas marcas chamadas Lifan Motor, Jialing ou Zongshen, entram a princípio de ´mansinho’ na Europa e as vendas resultam. O Grupo asiático passa então a vender cerca de 50 milhões de veículos de duas rodas por ano, adquirindo um importante estatuto no mercado global. Contúdo, o Gigante Chinês ambiciona ir mais além…
Trinta anos a preparar a internacionalização
Dado o poder industrial deste grupo, a força produtiva estava pronta para se abrir ao mercado internacional… trinta anos após a sua criação! Muito tempo, é certo, mas o necessário para preparar o terreno para o futuro. Normalmente, os fabricantes chineses que se instalam na Europa, contentam-se em encontrar simples distribuidores ou revendedores para vender os mesmos modelos que vendem na China. Contúdo, o Grupo Qianjiang quer seguir uma estratégia mais sofisticada! Começa com a criação do zero de uma marca de motos, cujo nome foi escolhido especificamente por ser facilmente pronunciável na Europa: Keeway.
Depois de instalar a sede da Keeway Europe na Hungria, a nova marca estabelece-se gradualmente em todos os maiores mercados europeus, como França, Itália e Espanha, abrindo ainda uma subsidiária da Keeway nos Estados Unidos. Em cada um dos seus mercados, a Keeway esforça-se por desenvolver uma verdadeira rede de concessionários próprios, onde os revendedores da marca podem contar com os serviços essenciais da subsidiária: serviço pós-venda, distribuição, pesquisa e desenvolvimento, ou mesmo comunicação.
Ao nível do produto, a Qianjiang recorre a um gabinete de design italiano para vestir as scooters da Keeway produzidas na China. Graças a todos os ingredientes desta receita, a marca conquistaria uma boa participação de mercado no segmento de scooters de nível básico. Paralelamente, a Qianjiang continuou a abrir fábricas de produção em todo o mundo, inclusive na América do Sul, mas a cereja no topo do bolo era a Europa!
A compra da Benelli
Contudo, para continuar o seu crescimento num mercado com história no motociclismo, o Grupo sabia que precisaria de uma marca conhecida, surgindo então o negócio com a Benelli. A centenária marca italiana de motos tinha tudo o que o Grupo Qianjiang ainda não tinha: credibilidade junto aos motociclistas europeus e, acima de tudo, uma longa história. Acontece que a Benelli passava por sérias dificuldades financeiras no final da década de ’90 e não vendeu praticamente nada no início da década de 2000… chegando ao ridículo de vender apenas 100 motos num ano em França! A oportunidade de comprar uma marca histórica surge e em 2005 como um saboroso rebuçado e o grupo Qianjiang compra sem pestanejar a Benelli. A filosofia dos investidores chineses era conseguir fazer uma gama de motos exclusivas e com boas performances. Destaca-se inicialmente com motos como a Leoncino, e em tempos mais recentes com a TRK 800, o mais recente modelo apresentado no último outono no EICMA de Milão.
Agora, a Qianjiang traz ao mundo uma nova opção para virar uma vez mais a cabeça aos motociclistas europeus: a QJ Motor. A marca foi apresentada oficialmente este ano no salão Expomoto no Porto, onde foi anunciado o início de comercialização, em setembro de 2022, em Portugal.
As especificações e design prometem qualidade. Veremos o resultado. Mas quase cinquenta anos de produção são uma boa carta de recomendação – mesmo para os mais incrédulos!
0 comments