A origem da BMW R80 G/S
Antes dos anos 80, uma moto de “aventura” era basicamente uma moto de enduro, leve e de baixa cilindrada, ou uma das motos mais pesadas para o deserto, alterada para viagens de longa distância. Nenhuma destas motos era ideal, mas eram as únicas disponíveis no mercado durante este tempo para aqueles que queriam enfrentar o mundo. A BMW R80 G/S viria mudar isto.
A década de 1970 foi a era em que as motos japonesas dominaram o mercado. Máquinas inovadoras mais actuais, mais rápidas e mais fiáveis estavam a sair das fábricas japonesas em grandes quantidades e o resto do mundo estava a lutar para se manter a par. Tendo-se agarrado obstinadamente aos seus designs desactualizados, os fabricantes britânicos estavam a caminho da ruína financeira.
A BMW também se encontrava numa posição semelhante com a sua divisão de motociclos, no entanto as suas vendas de automóveis estavam a ir bem e a manter a empresa a funcionar. O Inverno de 1979 viu muitos fabricantes britânicos fecharem definitivamente as suas portas, e os executivos da BMW estavam também prestes a encerrar a divisão de motociclos.
Dando ao seu departamento Motorrad uma última oportunidade de recuperar, os executivos nomearam uma nova equipa de gestão liderada por Karl Gerlinger. A equipa Motorrad apercebeu-se de que, para competir com a maquinaria japonesa, o seu motor boxer tradicional precisava de ser substituído por um novo quatro-em-linha. Este foi o início do plano de desenvolvimento de quatro anos da BMW série “K”, contudo Gerlinger, sob pressão de cima, sabia que precisava de uma “solução rápida” para impulsionar as vendas ou correr o risco de ser “desligado” de uma vez por todas.
Pouco depois da sua nomeação, Gerlinger visitou a fábrica da BMW Motorrad, à procura de um protótipo que pudesse ser colocado em produção rapidamente e, consequentemente, gerar as tão necessitadas vendas. Durante a sua visita, Gerlinger foi abordado por Laszlo Peres, um engenheiro de testes, que o apresentou ao seu “Diabo Vermelho”.
Um protótipo de enduro maior do que o habitual, o “Diabo Vermelho” era uma moto com motor boxer de 800 cc, que Peres tinha construído para si próprio nos anos 60 para competir em vários eventos todo-o-terreno na Alemanha. Peres tinha-o apresentado anteriormente à direcção da BMW, mas com os seus interesses inclinados para as motos de estrada e para as corridas de asfalto, não foi dada importância ao projecto.
Apesar da BMW ter travado o desenvolvimento da “Diabo Vermelho”, alguns dos seus engenheiros, incluindo Peres, continuaram a trabalhar na moto, tendo alguns protótipos sido mesmo vistos no Campeonato Alemão de Todo-o-Terreno.
Gerlinger viu imediatamente as possibilidades da “Diabo Vermelho” salvar o departamento da BMW Motorrad e por isso designou o engenheiro Rudiger Gutsche, que também tinha modificado um BMW R75/5 para competição todo-o-terreno, como chefe da equipa de desenvolvimento.
Com o tempo e o orçamento contra ele, Gutsche foi ver a gama de motos BMW existente para ver o que poderia ser utilizado para a nova moto. Utilizando a “Diabo Vermelho” como conceito de design, Gutsche decidiu utilizar o mesmo motor R80 juntamente com o quadro duplo berço de aço da do R65 e a forquilha da R100. Arriscando com na traseira da moto, Gutsche decidiu criar algo novo mas simples. Utilizando um desenho Monolever, os engenheiros conseguiram combinar a transmissão final e a suspensão traseira numa única unidade, acabando por reduzir as necessidades e os custos de manutenção, criando um sistema que continua a ter sucesso nos dias de hoje.
Várias outras alterações foram feitas para a nova moto, incluindo um sistema de ignição electrónica, um filtro de ar maior, um depósito de combustível de 19,5 litros e um escape dois-em-um montado numa posição elevada.
Antes do lançamento um grupo de jornalistas foi convidado para uma antevisão desta última moto da BMW. A sua reacção inicial foi de incerteza, e muitos ficaram perplexos com o que era essencialmente uma moto de enduro pesada e, aparentemente, inútil. Só depois de lhes ter sido dada a oportunidade de conduzir a moto é que começaram a aperceber-se do que a BMW tinha criado. A recém nomeada R80 G/S (que significava Gelande/Straße ou todo-terreno/estrada em alemão) não havia sido concebida para enfrentar as dois-tempo de enduro japonesas em competição, mas era uma moto que faria tudo, desde a deslocação em cidade até uma expedição à volta do mundo. A moto “Adventure” tinha nascido oficialmente!
Lançada no Salão de Motos de Colónia de 1980, a R80 G/S foi um sucesso imediato junto do público e no final de 1981 a BMW tinha vendido 6.631 modelos R80 G/S, o dobro da quantidade estimada. Uma em cada cinco motos BMW vendidas nesse ano eram G/S, e quando a R100 GS a veio substituir em 1987, mais de 21.000 unidades tinham sido vendidas, salvando definitivamente a BMW Motorrad. Até à data, a BMW já vendeu mais de meio milhão de modelos GS, e criou um dos segmentos actualmente mais saudáveis, populares e importantes nas motos!
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