História: Voxan, a marca francesa que nunca se reencontrou
Em meados da década de noventa, nasceu a primeira moto da nova geração 100% francesa. Na curta história deste fabricante, houve dois grandes fracassos e muitos renascimentos, mas verdadeiramente, a Voxan nunca reencontrou o sonho inicial de Jacques Gardette.
A Voxan nasceu em 1995 em Issoire, uma cidade francesa na região de Rhône, a partir da inspiração de um entusiasta endinheirado chamado Jacques Gardette, O seu objetivo passava por criar a primeira marca francesa de maxi-desportivas, capazes de ombrear com marcas italianas e japonesas. A sua inspiração, no entanto, vinha do outro lado do canal da Mancha, onde John Bloor tinha feito renascer a Triumph com grande sucesso, com uma série de motos modernas e inspiradas no passado mais glorioso motociclismo.
UM COMEÇO HESITANTE
A primeira moto a sair da fábrica Voxan foi a Roadster. Tratou-se de uma naked de linhas suaves, que apesar de ostentar uma certa personalidade, acabaria por não impressionar muito – possuía um design original, mas desigual. O que realmente melhor soava na primeira Voxan era a vertente técnica, especialmente o motor, um bicilindrico num V a 72 graus desenvolvido pela Sinoco e que debitava 100 CV – o limite máximo de potência que vigorava em França na altura. O ‘granítico’ V-twin estava ancorado num quadro tubular de uma única viga em arco, fazendo o motor parte integrante da estrutura, ao qual se ligava o sub-quadro de alumínio aparafusado, assim como um sólido braço oscilante. Estava criada a base que daria origem a uma ampla gama de motos, com design de identidade própria, não tardando a chegar uma série de modelos assente nessa mesma base estrutural.
CAFÉ RACER 1000, O MODELO DE MAIOR SUCESSO
Seguiu-se o modelo que finalmente proponha algumas ideias mais originais de design, a Cafe Racer 1000. Linhas muito suaves, curvas sobre curvas, para se criar uma moto praticamente sem linhas rectas que conquistou alguns motociclistas e afastou outros, mas que definitivamente não passava despercebida. Os pontos fortes foram a carenagem com dupla ótica e a linha dupla arredondada criada pelo depósito na junção com o assento e a ‘bacquet’.
Faltava acabamento e alguma atenção a pequenos pormenores, mas o equipamento técnico com forquilha Paioli e travões Brembo revelou-se um bom compromisso em termos de comportamento na estrada. Dizer que foi um sucesso é demasiado, mas foi uma moto que permitiu que a Voxan fosse finalmente tomada em consideração, com importações para o resto da Europa e um plano de crescimento convincente, na linha do que a Triumph tinha feito em Inglaterra alguns anos antes.
VB1, A SUPERSPORT DA BOXER DESIGN
Depois da Cafè Racer, a empresa de Jacques Gardette quis surpreender com a VB1, uma moto desportiva que partilhava a mesma base técnica da sua irmã, mas numa versão supersport e com assinatura da Boxer Design de Thierry Henriette, um famoso atelier francês que tinha estado ativo no mundo automóvel durante anos. O resultado foi digno de nota, um estilo convincente e racionalizado, maciço e pessoal, mas não lançou a marca no mundo, pelo contrário…
As contas na marca de Issoire começaram a ser tingidas de vermelho devido aos elevados custos de produção da Cafe Racer e ao investimento no desenvolvimento da VB1. De facto, muito poucas motos de carenagem foram vendidas e a empresa entrou na sua primeira queda. A partir dai, a Voxan chegou quase à falência, mas recuperou rapidamente graças ao financiamento da Dassault (a empresa militar estatal que produz os caças Mirage e Rafale para a força aérea) e pôde recomeçar, com um plano de produção que mudou ligeiramente de rumo.
MUDANÇA DE RUMO COM AS SCRAMBLER
Deixando de lado os modelos demasiado “ousados”, a Voxan tentou concentrar-se em conceitos concretos e procurados no mercado e criou – seguindo a mesma base técnica confirmada – a série Scrambler e Street Scrambler. Eram motos bem feitas, com acabamentos mais precisos do que a produção anterior, mas a estética era bastante anónima e faltava a personalidade requintadamente francesa que distinguiu a produção dos primeiros anos.
Em simultâneo surgiu o projecto GV 1200, referente a uma moto de Grande Turismo com carenagem completa e um motor de alta cilindrada que nunca chegou à produção. Surgiu ainda uma dupla de belas café racer, a Black Magic e Charade que marcariam outra mudança de rumo após a deceção pela falta de interesse do publico na série Scrambler, visando a criação de produtos exclusivos, caros, e deliberadamente, em séries limitadas.
COLAPSO E RENASCIMENTO ‘ELÉTRICO’
Poucas ideias e muito confusas na entrada no Séc. 21 levaram a uma nova crise na Voxan, mas desta vez não houve ajuda externa. Em 2009 a empresa foi colocada em liquidação pelo tribunal de Clermont-Ferrand e comprada por baixíssimo valor pela Venturi Automobiles, uma marca histórica de automóveis desportivos franceses, também em fase de renascimento.
A Voxan foi mantida inactiva até há alguns anos, com o nascimento do projecto Wattman: uma moto eléctrica futurista e exclusiva de alto desempenho (concebida por Sacha Lakic, anteriormente responsável pelo design da Black Magic), que numa versão com carenagem estabeleceu o recorde de velocidade para motos eléctricas. Conduzida por Max Biaggi chegou aos 366,94 km/h, com o objetivo de superar esta marca em 2021. A conturbada e infeliz da Voxan inicia assim um novo capítulo na sua vida.
Talvez a marca francesa encontre agora a sua verdadeira identidade e sucesso com que Jacques Gardette sempre sonhou!
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