Teste Triumph Speed 400 e Scrambler 400 X –  Ataque a um novo segmento de mercado com duas propostas irresistíveis

Todos conhecemos o forte posicionamento de mercado da Triumph Motorcycles no segmento de motos neo-clássicas , com as suas diferentes propostas de modelos de diferentes estilos que vão das tradicionais Scramblers, que remontam aos seus primeiros modelos dos anos 50, às motos de estilo Café Racer e outras como as mais minimalistas Bobbers.

Com uma gama diversificada e abrangente, a proposta de motos Triumph até ao momento estava essencialmente dirigida a um segmento de mercado de utilizadores com alguma experiência de condução com motos de cilindradas acima dos 600 cc.

Conscientes de que faltava uma proposta que fosse sedutora para motociclistas menos experientes e dirigida a um segmento de utilizadores mais abrangente, a marca britânica decidiu investir na criação de raiz de motos inteiramente novas, divertidas e fáceis de conduzir, que rapidamente conquistassem a confiança de um novo segmento de mercado, menos experiente e mais jovem.

A nova gama 400 beneficia de toda a experiência da Triumph e capacidade de desenvolver novos modelos a partir do seu departamento de R&D em Hinkley, no Reino Unido, tendo este novo projecto sido concebido sob o estilo clássico moderno que tanto se identifica com o ADN da marca.

Para conhecermos a fundo os dois novos modelos, a Roadster Speed 400 e a Scrambler 400X, fomos até Valência a convite da Triumph Motorcycles, onde durante dois dias as pudemos conhecer ao pormenor e testar as duas versões nas mais diversas situações.

A primeira impressão é a constatação de um estilo inconfundível Triumph

Já as conhecíamos de imagens que constavam das várias notas de imprensa que nos chegaram da marca e onde o ADN Triumph estava perfeitamente identificado, porém, na presença das mesmas, constatamos a qualidade com que estes modelos foram concebidos e todos os pormenores a que a marca já nos habituou nos seus modelos neo-clássicos, patente sobretudo nas suas silhuetas, nos pormenores no motor, desde a aletas polidas  que ressaltam na cabeça do novo monocilíndrico, nos acabamentos no escape, no elemento catalítico perfeitamente escondido na parte inferior das motos, no radiador quase oculto, nos pormenores no elemento de admissão a simularem um carburador, enfim ,mil e um detalhes que identificam estes novos modelos com a qualidade de acabamentos com que a marca sempre nos habituou.

Os dois modelos diferenciam-se à simples vista e de imediato pela sensação que transmitem da sua dimensão, sendo a versão Scrambler a mais alta, graças à incorporação de uma roda de 19” na dianteira, e também a um maior curso de suspensões. Aliás, ao olharmos para a Scrambler 400, diríamos que a mesma poderia ser perfeitamente uma moto de maior cilindrada pois até mesmo face à sua irmã Scrambler 900 parece inclusivamente maior ( na altura do seu assento é de facto ).

Os esquemas gráficos que os dois modelos exibem identificam-se também com o estilo e a qualidade a que estamos habituados nas motos Triumph, sendo que os dois modelos contam ambos com três opções gráficas diferentes. A Speed 400 exibe um logotipo de grande dimensão no seu depósito e a Scrambler 400X uma faixa de belo efeito gráfico, que já nos habituámos a ver em outros modelos ( Scrambler 1200 )

Também em matéria de “borrachas” as duas opções vêm calçadas diferentemente, sendo que a versão Scrambler monta pneus mistos Metzeler Karoo Street ( 140-17” e 100-19” ) e a versão Speed pneus Metzeler Sportec Street ( 150-17” e 110-17” )

O novo motor monocilíndrico das 400 surpreendeu-nos pelo seu desempenho extraordinário

O novo monocilíndrico de 398 cc foi desenvolvido de raiz e traz consigo a inspiração nos motores das Triumph Trophy do início do Séc. XX utilizados nas motos de competição em OffRoad, nas provas de Six Days Trial. Com injecção electrónica e arrefecimento líquido, o novo motor mostrou um excelente carácter responsivo desde os baixos regimes e um punch extra de potência a partir das 6.000 rpm, a proporcionar uma condução suave em ambiente urbano e muito divertida quando rodamos por estradas mais sinuosas fora da cidade.

Com cerca de 40 CV de potência às 8.000 rpm e um binário de 37,5 Nm às 6.500 rpm, o novo motor monocilíndrico integra DOHC e quatro válvulas, com uma taxa de compressão de 12:1 e um equilíbrio exemplar do seu funcionamento, com a absorção das típicas vibrações de um monocilíndrico, mesmo nos baixos e médios regimes.

Outra das realidade que nos surpreendeu neste motor foi o funcionamento preciso da caixa de 6 velocidades, perfeitamente escalonada e sincronizada, tirando partido da elasticidade do motor e permitindo inclusivamente a passagem de caixa sem embraiagem e sem ruídos de engrenagem. Monta também embraiagem deslizante e assistida para que o seu funcionamento seja sem esforço e mais controlado.

Conclusão final de um excelente motor monocilíndrico que é a alma dos dois modelos e que certamente veremos em breve aplicado em outros modelos que a marca venha a considerar lançar.

Ciclística adaptada ao estilo de cada um dos modelos

Com uma ciclística especialmente desenhada para proporcionar conforto e diversão em ambos modelos, partilhando parte do seu desenho de bastidor e alguns dos seus componentes, os dois modelos diferem em pormenores tendo em conta o seu estilo e tipo de utilização.

A versão Speed 400 tem uma altura de assento bastante acessível e baixa de 790mm que permitirá o acesso a um target abrangente em termos de estatura de utilizadores. A Scrambler nesta matéria é mais alta, com os seus 835mm, porém o facto do assento ser bastante estreito junto ao depósito, facilita o acesso dos pés ao chão.

Com quadros semelhantes, sendo o da Scrambler mais reforçado para uma utilização fora de estrada ( qualidade que pudemos comprovar e iremos comentar mais adiante ) as duas compartem o mesmo sub-quadro, que está aparafusado ao quadro principal. O braço oscilante é também idêntico e fabricado em alumínio fundido.

Em termos de suspensões ambas montam suspensões dianteiras invertidas de 43mm de diâmetro e do tipo Big Piston sendo o curso na Speed de 140mm e na Scrambler de 150mm. O comportamento de ambas as suspensões e a sua afinação de origem mostram um desempenho irrepreensível e um Setup misto que garante eficiência em todo tipo de situações ( até fora de estrada com a Scrambler )  sem sacrificar o conforto. Na traseira ambas montam mono-amortecedor com afinação de pré-carga de mola facilitada pela a inclusão de um manípulo externo de fácil acionamento.

Em matéria de travagem existem diferenças de comportamento entre os dois modelos sendo que a Speed com disco de 300mm e pinças de 400 pistons apresenta uma mordida mais forte e de tacto mais efectivo e a Scrambler, apesar de montar disco de maior diâmetro de 320mm, apresenta uma travagem mais progressiva e de tacto um pouco “esponjoso” de início mas igualmente eficiente quando aplicada mais pressão na manete, certamente com o objectivo de podermos rodar no fora de estrada e termos maior progressividade e controle na travagem ( como se veio a verificar )

As ajudas à condução são simples e as imprescindíveis

Os dois modelos partilham parte da sua electrónica e ajudas à condução beneficiando do que mais sofisticado existe no mercado. A gestão do motor é assegurada por tecnologia Bosch sendo o Controle de Tração desligável nos dois modelos. Já o ABS de dois canais é apenas desligável totalmente na versão Scrambler, realidade que nos proporciona o poder rodar fora de estrada sem qualquer das ajudas electrónicas. De destacar a fácil gestão das diferentes funcionalidades a partir de apenas um botão situado no punho esquerdo.

O acelerador Ride by Wire tem uma boa gestão da aceleração ao longo de todos os regimes de rotação de motor, porém, no início o seu tacto é algo brusco, do tipo on-off, sem ser demasiado desconfortável mas retirando alguma suavidade na condução em cidade.

O painel de instrumentos apresenta um velocímetro analógico e um ecrã LCD que inclui um tacómetro digital, o nível de combustível e a mudança engrenada, tudo com enorme leitura e visibilidade em qualquer circunstância. Lateralmente tem ainda uma tomada USB-C para ligação de dispositivos electrónicos e vem preparada com pré-instalação para ligação da opção de punhos aquecidos.

A iluminação é full LED e os faróis estão em perfeita sintonia com o posicionamento neo-clássico dos dois modelos, sendo que no caso da Scrambler inclui de origem uma proteção de rede metálica no farol dianteiro, reforçando o aspecto de utilização versátil do modelo.

Em suma, os dois modelos beneficiam de tecnologia moderna e de funcionalidades facilmente utilizáveis simplificando a sua utilização e proporcionando uma condução fácil e descontraída.

Diversão assegurada a rodar em asfalto em cidade e em estrada aberta

Na experiência que nos proporcionaram estava previsto um percurso ao longo do dia de cerca de 180 Kms que incluía percursos urbanos e de estradas nacionais, fora da cidade, com alguns percursos sinuosos de montanha.  

Numa manhã de início fria e húmida, que colocou à prova a resistência térmica do nosso equipamento, pudemos aferir o comportamento em termos de aderência das borrachas dos dois modelos. Os Metzeler Sportec montados na versão Speed mostraram que levam algum tempo a aquecer e a ganhar o nível de aderência que supostamente proporcionam nas suas condições ótimas, pelo que alguns sustos foram pregando pelo caminho.

Nesse aspecto a Scrambler, com pneus mistos, sendo a versão que de início levámos, mostrou-se bem mais à vontade, face às condições referidas em que rolámos e que, ao longo do percurso realizado pela manhã, foi mostrando uma enorme estabilidade, beneficiando de uma posição de condução mais direita visibilidade sobre a estrada e um guiador alto e largo a oferecer um maior controlo da direção.

Já em percurso sinuoso de montanha deparámo-nos com zonas de sombra com asfalto molhado onde a Scrambler se mostrava bastante mais à vontade, mesmo a rodar num ritmo alto. Já no início da tarde pudemos também testar a Scrambler num percurso fora de estrada, tendo o cuidado de desligar o controle de tração e o ABS. O seu desempenho surpreendeu-nos muito pela positiva, tanto no comportamento das suas suspensões como na entrega de potência do seu motor e também na posição de condução em pé, posição que beneficiava de poisa-pés de maior dimensão face à Street.

Pudemos pilotar a Scrambler com alguma agressividade no fora de estrada para perceber até onde nos permitia chegar e sinceramente surpreendeu-nos todo o potencial que a mesma revelou em OffRoad ( no próximo Lés a Lés OffRoad iremos colocar esse desafio à Triumph ).

O restante percurso da parte da tarde foi realizado na versão Speed, com tempo solarengo e de mais calor do que a manhã fria, onde pudemos comprovar a diferença de comportamento entre os dois modelos. A roda dianteira de 17″ e o menor curso de suspensões coloca-nos mais sobre a frente da moto o que torna a posição de condução algo mais desportiva. Em termos de conforto é muito idêntico, mas a menor distância entre eixos da Speed e roda de menor dimensão na dianteira tornam a sua condução mais agressiva e sobretudo algo mais ágil na entrada em curva. Sentimos também que a mordida do travão dianteiro é mais efectiva e a resposta mais imediata ao acionamento da manete o que permitiu incutir um ritmo mais rápido, tirando também partido do perfil mais desportivo dos seus pneus.

No final do trajecto estava bastante clara a complementaridade e posicionamento diferenciado dos dois modelos. Talvez a Speed seja a mais acessível e a mais fácil de conduzir em ambiente urbano pela sua menor altura de assento e aquela que numa utilização mais desportiva permite transmitir sensações mais fortes, sobretudo em estradas sinuosas. A Scrambler foi a que mostrou maior conforto graças às suas suspensões de maior curso e maior polivalência de utilização, com um comportamento fora de estrada que faz inveja a muitas motos trail.

A personalização faz parte da estratégia de mercado das novas Triumph 400

Para que cada Triumph 400 possa ser única e adaptada ao tipo de utilização que se pretende, a Triumph disponibiliza cerca de 25 acessórios opcionais para formatarmos cada modelo de acordo com as nossas preferências. Desde acessórios de estilo, a aumento de conforto, a proteções de motor e diferentes tipos de bagagem, permite-nos “vestir” a nossa Triumph 400 de acordo com o nosso estilo ou tipo de utilização.

Para tornar ainda mais fácil a configuração da nossa Triumph 400 podemos utilizar a aplicação de configuração on-line e na compra da moto solicitar que a mesma nos seja entregue na configuração desejada.

Uma proposta de valor imbatível

Com um desempenho difícil de bater no seu segmento e uma qualidade de acabamentos que são referência, as novas Triumph 400 representam uma incrível relação qualidade/preço.

De facto o posicionamento em termos de preço das novas Triumph 400 representam uma proposta extremamente aliciante face à concorrência, considerando sobretudo a oferta premium que representam e o desempenho de excelência que demonstraram.

Os dois modelos já estão disponíveis para teste nas diferentes lojas Triumph nacionais com um PVP de 5.595 eur para a versão Speed e de 6.295 para a versão Scrambler.

Gostámos

• – Qualidade de acabamentos
• – Desempenho do motor
• – Compromisso das suspensões

A Melhorar

• – Progressividade do Ride by Wire
• – Qualidade dos comutadores

Ficha Técnica

Galeria de Imagens Triumph Speed 400

Galeria de Imagens Triumph Scrambler 400 X