Teste Moto Morini Seiemezzo SCR – Essência Old School
Realizado por Alfonso Sánchez – Solomoto
Os antigos valores e costumes e os sistemas tradicionais nem sempre caem no esquecimento. E mesmo agora, que somos invadidos por toda a tecnologia digital, uma pequena lufada de ar analógica agradece-se e vem-nos trazer um diferente e gratificante ponto de vista neste presente hipertecnológico que nos sufoca. O que é “Old School” continua a ter os seus encantos.
Longe de parecer obsoleta, bafienta ou antiquada, a essência do Old School vem confirmar méritos que transcendem o passar do tempo. E quem melhor para confirmar esta realidade e tendência do que uma marca europeia de longa tradição como a Moto Morini ? A renascida casa de Trivolzio, em Pavia Itália, destaca-se do actual frenesim eletrónico desta terceira década para acalmar um pouco as águas e oferecer um panorama mais tranquilo.
E como ?
Com um modelo que não utiliza a tecnologia de ponta como a sua única razão de ser. Um modelo que prefere ir buscar inspiração às fontes clássicas e proporcionar a possibilidade de desfrutar do essencial, daquele que é o espírito genuíno e primogénito das duas rodas.
Assim é a Seiemezzo da Moto Morini, o segundo modelo depois da X-Cape lançado pela marca italiana desde que foi adquirida em outubro de 2018 pela grupo chinês Zhongneng Vehicle Group.
Nesta sua nova etapa, a Seiemezzo é um exemplo claro de uma prática que tem sido adoptada de recuperar marcas tradicionais italianas através do financiamento e capacidade industrial de gigantes asiáticos.
A Seiemezzo reúne o apenas necessário de esse classicismo básico para proporcionar uma condução da forma mais natural, sem quaisquer ajudas externas nem aditamentos ou complicações. Tudo flui com simplicidade, servindo-nos para recordar-nos que a felicidade não reside numa mão cheia de chips.
Pinceladas high-tech na Moto Morini Seiemezzo SCR
Face ao exposto há que dizer que a Seiemezzo faz algumas concessões aos últimos avanços tecnológicos incorporando um painel de informação TFT de 5” a cores, de fácil leitura, com conectividade com um smartphone através de ligação via Bluetooth.
A versão aqui testada é a Scrambler ( a designação SCR refere-se precisamente ao estilo da mesma ) sendo que existe uma outra versão do mesmo , modelo designada de STR, esta de características mais asfálticas.
Esclarecida esta questão, vemos que a Moto Morini seguiu todas as formalidades e características que o conceito Scrambler actualmente implica. Exibe por isso um guiador largo e elevado, montando uns retrovisores de estilo clássico que proporcionam uma boa visão posterior. Se por um lado garante um controle da direção por outro somos penalizados a circular no meio do transito citadino, sendo que qualquer distração implica o roçar na lateral de um carro e o constrangimento do habitual “desculpe” perante a consternação do condutor.
Mas continuemos a descrever todo o equipamento desta Scrambler. Na frente adopta um clássico farol redondo que incorpora iluminação LED, realidade replicada no discreto e minimalista farol traseiro. Uma outra realidade que merece reparo são os botões de comando nos punhos retroiluminados.
Sobre o farol dianteiro deparamo-nos com uma pequena pala que protégé o painel TFT e desvia ligeiramente o vento em andamento. O depósito de combustível é de excelentes dimensões e comporta 16 litros de gasolina, para além de apresentar formas que que permitem um encaixe perfeito das pernas . Este último ponto juntamente com o guiador define uma ergonomia que confere conforto na condução da moto, realidade apenas penalizada pela escassa proteção ao vento quando rodamos a velocidades que superam os três dígitos.
Moto Morino Seiemezzo SCR “ One size fits All “
Esse mesmo triângulo ergonómico, entre o assento, os poisa-pés e o guiador estão na base da sua abrangência de utilização. O assento não é excessivamente alto, apenas 810mm, nem largo, permitindo à grande maioria de utilizadores chegar bem com os dois pés ao solo. Os poisa-pés apesar de terem sido colocados altos não obrigam a fletir demasiado as pernas.
O assento, de uma só peça, inclui nas suas extremidades umas pequenas “asas” para que o pendura se possa segurar firmemente. O espaço para o mesmo é também generoso e bastante confortável. Os poisa-pés, protegidos por borrachas, não obrigam o mesmo a efectuar contorcionismos.
Outros pormenores que reforçam o estilo Scrambler desta Seiemezzo são o guarda-lamas dianteiro curto e elevado e a proteção de cárter. No entanto existe um pormenor que não segue as características marcantes das motos ao estilo Scrambler que é o escape, normalmente colocado em posição elevada o que não acontece na Seiemezzo SCR, tendo a Moto Morini optado pela sua colocação numa posição inferior ao longo da linha traçada pelo braço oscilante. Precisamente neste último componente foi colocado o suporte de matrícula.
Fica assim sucintamente configurada esta versão Scrambler da Seiemezzo, uma máquina que pretende ser útil em qualquer tipo de terreno. Moto Morini concebeu a SCR para uma utilização polivalente, para que possamos diariamente levá-la na cidade e mais tarde rodarmos pelas estradas com a possibilidade de nos aventurarmos fora das mesmas.
Em cidade os 216 Kg da Seiemezzo fazem-se notar nas manobras parado e embora a sua altura não seja excessiva o certo é que em situações de desnível acentuado há empenhar-se a empurrá-la. Dispõe apenas de descanso lateral para estacionar.
Uma vez em movimento o peso que antes sentíamos parados desaparece como por magia, mostrando-se ágil e com uma excelente manobrabilidade. O seu motor responde forma algo brusca quando rodas o punho porém beneficia de um bom binário nos baixos regimes proporcionando suavidade e linearidade na sua condução.
Tudo bem, mas…
Como já referimos antes o único senão que encontrámos foi a rodar no meio do transito da cidade, realidade penalizada pelo largura do guiador e dos retrovisores que teima em esbarrar-nos a passagem pelos estreitos espaços entre os carros.
No entanto quando nos afastamos da selva urbana é quando começamos a apreciar em plenitude o desempenho do bicilíndrico em linha da Seiemezzo. Este é o mesmo motor que monta a X-Cape embora com uma resposta mais suave e progressiva, à excepção de alguma brusquidão no início e a mostrar a partir das 3.000 rpm os regimes onde se sente mais solto.
A partir desse ponto e até às 6.000 rpm a entrega de potência chega a ser contundente e cheia, no entanto a partir de aí e até atingir o redline às 9.000 rpm o motor não se mostra excessivamente brilhante apesar de não perder o fôlego.
Fora dos ambientes mais urbanos a italo-asiática permite-nos escolher entre estradas secundárias de asfalto ou meter-nos por estradões de terra ou caminhos de cabras. O ideal talvez seja o podermos combinar as duas opções.
No asfalto o seu comportamento é excelente, oferece confiança inclusivamente na situação que nos deparámos na manhã do teste, com baixas temperaturas e humidade a deixar a estrada bastante molhada. Neste caso a Scrambler faz gala de umas suspensões em simultâneo firmes e progressivas que nos permite entrar em curva com segurança na travagem e sair em aceleração com suavidade e controle. A entrega progressiva do seu bicilíndrico também contribui para alguma tranquilidade na condução.
Ajustes múltiplos
Apesar da afinação de série se adaptar bem ao meu peso, no caso de haver necessidade de regular as suspensões as mesmas têm essa possibilidade, com ajuste de pré carga em ambas e ajuste de compressão na barra esquerda e de extensão na barra direita. Da mesma forma também o amortecedor traseiro permite o seu ajuste, sendo no entanto menos progressivo pelo facto de estar fixado directamente no lado direito do braço oscilante.
Apesar da largura do seu guiador a Seiemezzo mantém firmeza no traçar das trajectórias em curva e permite realizar mudanças de direção de forma intuitiva e natural.
Preparada para tudo
A opção dos pneus selecionada pareceu-nos óbvia nestes tempos em que abundam diversos modelos com estas características e onde quase todos optam pelos Pirelli MT60RS, pneu que oferece um bom compromisso em todo tipo de terrenos, talvez até melhor em estrada do que em terra, garantindo sempre altos níveis de confiança.
Montar jantes de raios parece-nos também a opção óbvia e natural já a pensar em possíveis incursões for a de estrada com montagem de uma jante dianteira de 18”, um compromisso razoável tendo em conta as circunstâncias e a polivalência ( habitualmente vemos jante de 19” )
Quando testámos o seu comportamento fora de estrada, tirámos todas as dúvidas que ainda restavam e pudemos constatar que a Moto Morini concebeu este modelo para uma utilização mista suave. Quero dizer com isto que a Seiemezzo SCR funciona bastante bem em estrada e quando te atreves fora da mesma cumpre com suficiente segurança e conforto.
O seu peso e as inércias que provoca aconselham-te a ritmos menos elevados fora de estrada para além de que as suspensões e os pneus rapidamente te estabelecem os seus limites. Em ritmo de passeio poderás rodar com enorme segurança fora de estrada sem que os limites estabelecidos pelo pouco curso das suspensões e os tacos pouco dimensionados dos pneus te preguem uma má surpresa.
E em termos de travagem ? Na verdade pareceu-nos bastante boa, consistente e doseável, com um ABS que cumpre de forma exemplar e que actua apenas quando absolutamente necessário. Apenas sentimos em falta a possibilidade de o desligar pelo menos na roda traseira quando rodamos fora de estrada.
Com um PVP de 7.490 euros parece-nos um preço razoável tendo em conta tudo o que inclui e caso não tenhas ainda carta A a Moto Morini dispões de uma versão A2 limitada a 35 Kw.
Em resumo, se não és fanático da tecnologia, poderás considerar a Seiemezzo SCR uma boa opção para teres na tua garagem. Um modelo “Old School” de um estilo inconfundível e intemporal .
O que mais gostámos e o que pode ser melhorado
Solomoto +
- Estética atractiva
- Motor suave e progressivo
- Suspensões com bom compromisso terra-asfalto
- Travagem excelente
Solomoto –
- Peso nas manobras e em terra
- Guiador largo em cidade
Ficha Técnica
Motor tipo: | Bicilíndrico 4T, DOHC, LC, 8V |
Diâmetro x curso: | 83 x 60 mm |
Cilindrada: | 649 c.c. |
Potência máxima: | 61 CV @ 8.250 rpm |
Binário máximo: | 54 Nm @ 7.000 rpm |
Alimentação: | Injeção electrónica Bosch |
Emissões de CO2: | N.d. |
Caixa: | 6 velocidades |
Embraiagem: | Multidisco em banho de óleo |
Transmissão secundária: | Corrente |
Tipo chassi: | Tubular em aço |
Geometría de direção: | N.d. |
Braço oscilante: | Duplo braço de aluminio |
Suspensão dianteira: | invertida Kayaba de 43 mm com 120 mm de curso |
Suspensão traseira: | Mono amortecedor Kayaba com 120 mm de curso |
Travão dianteiro: | 2 discos Brembo de 298 mm com pinças de 2 pistons e ABS |
Travão traseiro: | Disco Brembo de 255 mm com pinça de 2 pistons e ABS |
Jantes / Pneus: | 120/70-18 e 160/60-17 – Pirelli MT60RS |
Distância entre eixos: | 1.425 mm |
Altura assento: | 810 mm |
Peso atestada: | 216 kg |
Depósito: | 16 l |
Consumo médio: | N.d. |
Autonomia teórica: | N.d. |
Garantia oficial: | 3 años |
Importador: | Garagem Central |
Contacto: | 223 169 611 |
Web: | https://motomorini.eu/ |
0 comments