Teste da Brixton Cromwell 1200 – Como o olhar de um elefante

By on 23 Outubro, 2022

Já alguma vez olhaste um elefante nos olhos ? Possivelmente não mas se tiveres a oportunidade de te aproximares o suficiente poderás comprovar que por detrás da sua íris castanha pode-se adivinhar toda uma vida. É um olhar calmo, poderoso, mas em simultâneo simples e franco. Um olhar que não esconde nada. O mesmo acontece com a Brixton Cromwell 1200, uma potente neo-clássica que oferece exactamente o que vemos. Não esconde nada. Potente e nobre em partes iguais.

De certa forma a Cromwell 1200 é o “elefante” da família Brixton. Atinge os 235 kg de peso e sua longa distância entre eixos de 1450mm, com uma aparência tranquila e relaxada, para colocar-se como estandarte não das Cromwell mas sim de toda a gama Brixton.

Olhemos por qualquer ângulo e a sensação de solidez que nos transmite é sempre a mesma, de potência e em simultâmeo de serenidade. As cores suaves que foram escolhidas para exibir nesta austríaca de silhueta clássica são demonstrativas do carácter que a marca pretendeu incutir no modelo. Um verde pastel, um delicado cinzento e um elegante negro mate, proporcionam uma formidável e brilhante presença onde a marca, colocada em primeiro plano, termina por completar.

A Brixton Cromwell 1200 é simplesmente aquilo que vemos. Uma naked neo-clássica de aspecto e acabamentos impecáveis, uma moto que demonstra atenção aos pequenos detalhes e oferece todo o sabor dos modelos clássicos com algumas pinceladas de tecnologia actual, suficientes para estabelecer um equilíbrio perfeito.

Tal como certamente a maioria de vós também nós nos questionamos sobre o porquê da marca ter dado um passo de gigante na gama Cromwell passando dos anteriores modelos 125 e 250 directamente para uma 1200. Conscientes de que existiria essa interrogação os responsáveis da marca centro-europeia depressa apresentaram os argumentos que dão sustentabilidade a essa estratégia.

Então porquê ?

Em primeiro lugar a ideia central foi a de estabelecer um claro objectivo da marca: demonstrar a sua capacidade tecnológica e criação de modelos próprios. Uma jogada que procura projectar uma imagem pujança junto do público alvo e em simultâneo posicionar-se de forma vantajosa face à concorrência. Para além do mais este modelo permitirá à rede de concessionários dispor de um valor acrescentado que prestigia a marca Brixton.

E claro que todo o esforço de desenvolvimento de um novo modelo não irá terminar por aqui e no curto prazo servirá certamente como base para o desenvolvimento de outros modelos.

Um dos grande argumentos deste modelo, como poderão constatar mais adiante, é o carácter musculoso do seu bicilíndrico. A Brixton deu também especial atenção aos pequenos detalhes. Aliás neste campo a Cromwell 1200 é toda uma montra de pequenos pormenores conjugados de forma harmoniosa e equilibrada que acabam por se tornar num importante argumento de venda.

O farol redondo de tecnologia LED que integra o logo da marca é exemplo desse mesmo cuidado e atenção aos pormenores, assim como os foles de borracha que protegem as baínhas da suspensão. O guarda lamas dianteiro curto e o manómetro redondo que concentra toda a informação são também pormenores que definem o estilo clássico da Cromwell 1200.

Tudo parece seguir um guião muito bem estruturado. O guiador largo de secção cónica com punhos que imitam as costuras do couro e até mesmo o depósito de combustível, de suaves e enérgicas linhas, com profundas reentrâncias para um bom encaixe das pernas, que inclui um belíssimo tampão de rosca que exibe o logo  da marca.

A propósito do logotipo, no caso da Cromwell 1200 o mesmo foi redesenhado para ser destacado nas laterais do depósito mantendo e reforçando o posicionamento clássico do modelo. Realidade que se junta a outros pormenores como as placas que expressam a cilindrada do motor colocadas nos corpos de admissão na injecção e o logo da marca colocado nas tampas de cárter. Exemplo são também os escapes que montam um tubo exterior para evitar a alteração do seu aspecto exterior devido às altas temperaturas que atingem.

O assento é de uma única peça e reforça a imagem clássica do modelo com as típicas costuras. Na traseira encontramos um guarda-lamas que integra o suporte de matrícula e um farol em forma de bala com intermitente de pequenas dimensões, ambos de tecnologia LED.

Sensações

Aparências á parte, a Cromwell é toda coração. Grande como o de um elefante e em consonância bate quase com a mesma cadência, lenta e imperturbável. Com 1.222 cc e uma potência de 83 CV às 6.550 rpm são valores de referência no segmento no entanto aquilo que melhor define o seu temperamento é o binário de 108 Nm disponível logo às 3.100 rpm.

O bicilíndrico paralelo foi integralmente desenhado e desenvolvido pela Brixton nos seus escritórios centrais em Krems na Áustria, assim como o resto da moto, e fabricado pelos especialistas em motores da Gaokin.  E o resultado não poderia ser mais satisfatório.

Refrigerado por água e alimentado por injecção electrónica, o motor bicilíndrico inclui tecnologia de ponta como sejam as suas válvulas borboleta de injecção da Dell’Orto, pistons da Mahle e centralina da Magneti Marelli. Dispõe ainda de embraiagem deslizante e distribuição com 4 válvulas por cilindro com SOHC. Os escapes duplos colocados lateralmente incluem silenciadores em aço inoxidável.

A resposta do motor é um dos argumentos chave da Cromwell 1200. Com um tacto típico de bicilíndrico op seu palpitar vem acompanhado de um som grave e poderoso dos seus escapes.  Com este tipo de arquitectura e cilindrada podia pensar-se que o seu desempenho seria marcado por uma maior suavidade de comportamento, no entanto desde início que revela um temperamento nervoso.

E esse carácter responsivo permite-lhe mover-se com enorme desenvoltura desde os primeiros instantes. Podemos sentir-nos de início intimidados pela sua dimensão, com os seus mais de dois metros de comprimento e e 235 kg de metal. No entanto esta Brixton engana e até mesmo parada consegue-se manobrar com extrema facilidade, realidade que é fruto de uma boa repartição de pesos e um centro de gravidade baixo e bem colocado. Se a tudo isso somarmos uma altura de assento de apenas 800mm o resultado é o de obtermos uma moto que, inclusivamente para quem tem uma estatura média ou baixa, acaba por ser de fácil manejo.

Em termos ergonómicos

O assento é algo largo na zona de união com o depósito o que obriga a abrirmos um pouco as pernas, não sendo no entanto exagerado nem incómodo. Como não dispõe de descanso central a tarefa de a colocarmos no descanso lateral é bastante simples e fácil, encontrando-se o mesmo num local de acesso automático. O amplo guiador facilita o girar de direção e a brécage é bastante generosa facilitando as manobras em espaços reduzidos, apesar da dimensão da Cromwell 1200.

A condução

O rodar em cidade não é propriamente a sua especialidade, mas o seu equilíbrio geral a baixa velocidade e a sua relativa agilidade, apesar do seu tamanho, conferem-lhe algum desempenho em ambiente urbano, mantendo o modo eco de motor como o adequado para o efeito. A Brixton disponibiliza um segundo modo de condução, o Sport , de igual potência mas de resposta mais rápida. Considerando que o binário máximo é entregue logo às 3.000 rpm no modo ECO obtemos uma resposta igualmente sólida e contundente, graças também à sensibilidade estabelecida pelo seu acelerador Ride-by-Wire.

Modos de condução

O modo de condução selecionado é bastante fácil de identificar pois o grafismo do painel TFT de informação muda radicalmente. No Modo ECO a prioridade é para o velocímetro com um aspecto clássico enquanto que no Modo SPORT o destaque vai para o conta-rotações.  Constante nas duas configurações é a restante informação que dado o espaço limitado dificulta um pouco a sua leitura. Escondido na lateral do quadro encontramos ainda uma porta USB para ligação de equipamento electrónico.

Já em estrada

A Brixton Cromwell 1200 volta a surpreender-nos em estrada aberta. Apenas a curta distância livre das poisa-pés ao solo parecem limitar a vontade de curvar de forma mais desportiva desta naked neo-clássica de aspecto retro-inocente. Tanto a ciclística como o temperamento do motor demonstram uma vontade de levar a Cromwell 1200 a outro tipo de condução com um ritmo muito mais agressivo do que à primeira vista poderíamos imaginar.

À saída das curvas é todo um festival, pois ao rodarmos o punho com determinação a Cromwell sai quase catapultada e sem perder compostura pronta para atacar a curva seguinte. Tudo realizado com enorme controle e sensação de segurança, com enorme firmeza e espírito decidido. O controle de tração permite-nos abrir gás sem reservas e tudo aparece debaixo de um controle absoluto.

A ciclística mantém-se firme, sem qualquer tipo de torsões, digerindo de forma perfeita todo o binário entregue pelo motor e o mesmo acontece com o trabalho das suspensões, com um desempenho de acordo com o peso do conjunto e a manter o equilíbrio global face às exigências do binário do bicilíndrico.

Algumas particularidades

É um facto que estamos perante uma moto de grande porte e pesada, por isso se queremos entrar bem nas curvas num ritmo elevado é necessário definir alguns limites tendo em conta que rapidamente estaremos a roçar com os poisa-pés no asfalto. A travagem é eficaz, doseável e consistente e a utilização do travão traseiro é recomendável para evitar o sobrecarregar da frente da moto com todo o peso do conjunto.

O bom comportamento em curva é assegurado também pelos Pirelli Phantom SportComp que são especialmente dotados para esta moto por duas razões, primeiro pelo seu desenho que encaixa perfeitamente no estilo clássico da moto e em segundo por que garantem a estabilidade e aderência necessárias para exprimir ao máximo todas as possibilidades que nos oferecem os 83CV disponíveis na Cromwell 1200. Contamos ainda com a intervenção do ABS da Bosch, pouco intrusivo, mas presente sempre que o piso se mostrar mais complicado em termos de aderência.

Em auto-estrada o facto de não termos qualquer proteção frontal irá impor o ritmo certo, tendo em conta os limites das tuas cervicais e a preocupação que possas ter com os pontos que te sobram na carta de condução.

Conclusão

No final do teste que realizámos durante a apresentação do modelo impõe-se uma reflexão… Todos os jornalistas presentes eram unânimes de que o cliente a quem se destina a Cromwell 1200 nunca irá rodar nos limites que alcançámos neste apresentação e mesmo assim a moto esteve sempre à altura do ritmo alto que lhe foi imposto. Ou seja, o público final ficará mais do que satisfeito e com expectativas mais do que superadas com tudo o que a Cromwell oferece. Uma imagem elegante, clássica e sóbria, e um desempenho suave, fácil e sem complicações. E se alguém se atreve a explorar mais além a Cromwell 1200 não vos defraudará.

O seu preço de 10.299 euros, não nos parece exagerado tendo em conta o nível de acabamentos que oferece e todos os pormenores que inclui.  O motor tem potência de sobra e uma dinâmica surpreendente graças a um binário desde os regimes mais baixos. A Brixton irá oferecer ainda uma versão com apenas 35 Kw para carta A2.

Está disponível em 3 versões, cinza, verde e uma opção em preto mate com os escapes lacados a negro.

O que mais gostámos e o que poderá melhorar

MOTO+

  • Acabamentos cuidados
  • Motor enérgico
  • Binário a baixas
  • Ciclística com enorme solvência

MOTO-

  • Informação confusa no TFT
  • Modos de condução desnecessários

Ficha Técnica

Motor tipo: Bicilíndrico em línha, 4T LC, SOHC 8V
Diámetro x curso: 98,6 x 80 mm
Cilindrada: 1.222 c.c.
Potência máxima: 83 CV @ 6.550 rpm
Binário máximo:108 Nm @ 3.100 rpm
Emissões de CO2:105 g/km
Alimentação: Injeção electrónica
Caixa: 6 velocidades
Embraiagem: Multidisco em óleo com sistema deslizante
Transmissão secundária: Corrente de O’rings
Tipo chassi: Tubular em aço
Geometría de direção: N.d.
Braço oscilante: Duplo braço em tubo de aço
Suspensão dianteira: Forquilha telescópica KYB de 41 mm e 120 mm de curso
Suspensão traseira: Amortecedor duplo KYB com 87 mm de curso, ajustável em pré-carga
Travão dianteiro:Dois discos de 310 mm com pinça Nissin de 2 pistons, ABS Bosch
Travão traseiro: Disco de 260 mm com pinça Nissin de dois pistons, ABS Bosch
Rodas/pneus: 100/90 x 18” e 150/70 x 17” (opção 110/80-18” e 160/60-17”)
Distancia entre eixos: 1.450 mm
Altura assento: 800 mm
Peso235 kg
Depósito:16 l
Consumo médio: 4,6 l/100 km
Autonomía teórica:345 km
Garantía oficial:3 anos
Importador: Motéo Portugal
Contacto: 234 316 264
Web: brixton-motorcycles.com
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