ENSAIO SUZUKI KATANA 1000 de 2020 – de Regresso ao Futuro
A Suzuki Katana é um modelo icónico e lendário e um marco histórico não só para a própria Suzuki como para o sector em si, de tal forma que se manteve invicto ao longo de décadas pelo seu estilo estético, chegando a inspirar as linhas das actuais Streetfighters japonesas.
A convite do importador da Suzuki em Portugal, a Moteo, tivemos o privilégio de poder testar a nova Suzuki Katana 1000, modelo apresentado pela marca com pompa e circunstância durante a Feira Internacional de Milão, EICMA 2018, como sendo inclusivamente considerado da gama de 2020.
Para mim pessoalmente que sou da “era” da Katana de 1982, na qual rodei durante alguns anos, depois de em 1981 ter tido já uma GSX1100E, que montava precisamente o mesmo motor da Katana apresentada no ano seguinte mas com cerca de menos 5 CV. A Katana 1100 de 82 foi uma moto totalmente revolucionária na altura, quer por ser a primeira moto semi-carenada da Suzuki, e mesmo do mercado, e a mais potente de então, quer também pelo seu design futurista e nessa época nada consensual. Para mim sempre foi extraordinária e uma lufada de ar fresco no sector das motos, tendo projectado a Suzuki para outros vôos logo a seguir com o lançamento das primeiras desportivas que até aos dias de hoje carregam a imagem de maior reconhecimento da marca sob a sigla GSX-R.
Numa época em que assistimos a um revivalismo em torno do clássico e do vintage, e vemos muitas marcas a desenvolverem novos modelos sob essa orientação neo-clássica que o mercado anseia e exige, uma estratégia que tem marcado esta tendência tem sido a de recuperar modelos que marcaram determinado momento histórico da vida das marcas, quer pelos seus êxitos na competição, quer pelo sucesso comercial que em determinado momento e dada a conjuntura da época se conseguiram conquistar criando memórias para o futuro.
Claro que esses modelos carregam consigo o DNA das próprias marcas e reforçam também a sua identidade. É o caso das Kawasaki 900 RS inspiradas nas famosas Z1 do final dos anos 70, das CB’s 1100 da Honda também inspiradas nas CB’s da mesma época, a gama XSR da Yamaha com a recente Xtribute que presta homenagem à também icónica XT 500 e a gora a Suzuki que recupera um dos seus mais emblemáticos modelos, a KATANA.
A nova Katana carrega por isso uma enorme responsabilidade e é mais do que apenas um modelo de mota, é quase como a alma da firma fundada há 109 anos por Michio Suzuki e que conta hoje com mais de 45.000 colaboradores. A Katana é também todo um símbolo do Japão, a arma de excelência dos Samurais, de perfil curvo e de um aço trabalhado à exaustão para conferir um poder de corte sem precedentes. Aqui deixo-vos uma curiosidade; a Katana original era empunhada pelos Samurais com as duas mãos tendo evoluído mais tarde, por intervenção dos portugueses durante o período dos descobrimentos, para 2 Katanas, uma mais pequena que a original empunhada só com uma mão e outra do tipo adaga, mais curta apelidada de Tanto, que era utilizada na outra mão e em simultâneo durante os combates. Esta última era também utilizada nos rituais de honra dos Samurais os chamados Hara-Kiri.
Tendo sido revelada em 2017 na feira EICMA de Milão, então como protótipo apelidado de Katana Concept 3.0, idealizado por um famoso designer de motos, o italiano Rodolfo Frascoli, a Suzuki captou de imediato o entusiasmo do mercado e decidiu avançar com um modelo comercial. A nova Katana está por isso profundamente inspirada no design inicial de Frascoli que acabou por desenvolver o projecto final realizando pequenos ajustes nas suas linhas mas recuperando o traço daquela que em 1982 revolucionou o mercado.
Se olharmos para o perfil da nova Katana 2020 podemos ver claramente essa inspiração, sobretudo no conjunto frontal do depósito, farol dianteiro e tampas laterais, onde a arte de Frascoli soube introduzir de forma sábia traços contemporâneos e de modernidade.
O assento foi segundo Frascoli o elemento que obrigou a um maior acerto na sua concepção quer pela necessidade de manter inspiração no original dos anos 80 mas também para que do ponto de vista dinâmico e estético pudesse contribuir para o perfeito equilíbrio da nova Katana.
O farol dianteiro quase rectangular como o seu original vintage incorpora tecnologia LED de uma forma quase artística e de excelente concepção técnica. Dividido a meio e com uma distribuição armoniosa dos componentes LED, o farol está inserido numa pequena cúpula frontal que cobre também o painel LCD de informação. Simplesmente brilhante a transformação, ou antes evolução, do modelo dos anos 80 para o actual. A frente da moto carrega consigo de forma clara essa herança de quase quatro décadas até aos dias de hoje.
Quanto à ciclística da Katana 2020 a Suzuki decidiu conjugar alguns elementos que no histórico da marca iriam garantir o desempenho necessário da sua neo-clássica Streetfighter. Assim o quadro deriva directamente daquele que é utilizado pelas actuais GSX-R1000 e GSX-S1000 e o braço oscilante da GSX-R1000 de 2016, assegurando a rigidez necessária para garantir um comportamento de excelência da nova Katana.
As suspensões invertidas de 43mm da KYB com um curso de 120mm são totalmente ajustáveis e demonstraram um setup de origem acertado para o percurso de cerca de 150 Kms que realizámos por estradas nacionais pela zona da Serra de Montejunto, conferindo à frente da moto uma excelente precisão e facilidade de colocação em curva. O amortecedor traseiro permite também ajuste de pré-carga de mola e de regulação do hidráulico em extensão e talvez necessitasse um pouco mais de ajuste para não sentir a traseira tão “solta”, mas não houve oportunidade de o fazermos.
O dia também estava chuvoso e o ritmo não foi demasiado agressivo pelo que o comportamento da moto esteve à altura do exigido. Os pneus Dunlop RoadSport 2, 120/70-17” e um largo 190/50-17” atrás mostraram um comportamento sempre previsível, mesmo com piso molhado, mostrando aderência à entrada e saída das curvas e conferindo um nível de confiança extra à condução.
A Katana monta um guiador para o alto, talvez demasiado para uma moto de cariz mais desportivo mas a fazer lembrar o original dos anos 80, pelo que a posição de condução é bastante direita e confortável. O assento é firme mas largo pelo que a sua sustentação confere um grau extra de comodidade. Na parte do pendura o assento está forrado com material bicolor para lembrar a combinação do assento da Katana original.
As pinças radiais de travão são da Brembo e mostraram um bom tacto e desempenho, embora o conjunto não inclua bombas da Brembo. Na dianteira monta dois discos de 310mm e na traseira um disco de 245mm. A travagem é assistida por ABS da Bosch mas não inclui ABS em curva, no entanto o bom tacto dos travões permite dosear os mesmos em curva sem demasiado risco de bloqueio.
O motor da Katana 2020 é um tetracilíndrico de 999cc que debita 150CV às 10.000 rpm e com um binário máximo de 108 Nm às 9.500 rpm. A Suzuki optou pelo motor das suas GSX-R1000 de 2005-08 pois são motores que garantem uma entrega de potência linear desde os baixos regimes e a sua concepção permite que o quadro tenha uma configuração linear e directa entre o topo da cabeça de direção e o ponto de fixação do braço oscilante, garantindo uma maior rigidez do conjunto e um menor peso também.
O sistema de acelerador da Katana é por cabo e não electrónico do tipo “Ride-by-wire” pelo que o seu tacto é mais directo garantindo uma maior sensibilidade na gestão do mesmo, transmitindo uma maior sensação de controle da moto ao condutor e não de que a mesma está a ser gerida por um sistema electrónico que decide qual a melhor forma de acelerarmos. Inclui no entanto um sistema que garante uma aceleração optimizada no arranque para que não se corra o risco da moto ir abaixo por falta de uma boa gestão na combinação da embraiagem e do acelerador. Para além do sistema de compensação do acelerador a Katana inclui ainda o Sistema “Easy Start” que permite pressionando apenas uma vez o botão de arranque a moto garantir o seu funcionamento imediato sem termos sequer que carregar na embraiagem, sempre e quando a moto se encontre em ponto morto.
O escape é do tipo 4-2-1 e a ponteira tem um excelente som e acabamento. O elemento catalítico é de enorme dimensão, graças aos Euro 4 e 5, mas felizmente a robustez e a sobre dimensão da estrutura do braço oscilante permite escondê-lo parcialmente. Nada que não se possa resolver com a colocação de um escape especial que, para além de dar outra “respiração” ao motor, elimina peso e aumenta potência. No entanto os 150 CV são mais do que suficientes para proporcionar uma condução desportiva e agressiva sempre que possível ou permitido.
A Katana vem com sistema de controle de tração de 3 níveis e um quarto que é desligado. O nível 3 é o mais interventivo para ser utilizado em dias de chuva ou em situações de piso escorregadio. O nível 1 permite uma condução ainda desportiva com algum “spin” da roda traseira mas para ser utilizado em estradas com piso em bom estado. No painel de informação está bem visível o nível selecionado.
O painel de informação é semelhante aos utilizados nas desportivas da marca e contém toda a informação necessária e habitualmente fornecida, onde de início aparece inclusivamente o símbolo da Katana. No topo inclui ainda uns Leds avisadores da intervenção do controle de tração. A Suzuki Katana está disponível em duas cores, o cinzento metalizado tradicional do modelo original e também uma versão em preto metalizado apresentada mais recentemente. Na apresentação estava também presente uma versão de 1984 da Katana 740, praticamente idêntica à versão 1100 e apenas diferente na sua cilindrada.
No final a experiência foi bastante positiva, a comportamento e desempenho da ciclística e do motor da nova Katana estão de acordo com o estilo neo-clássico e desportivo da mesma, sendo uma simbiose perfeita de um design icónico com uma visão vanguardista e contemporânea da mesma. Uma moto divertida e fácil de conduzir que permite uma utilização no dia a dia e eventualmente uma passagem por um qualquer circuito para “aquecer” os joelhos no alcatrão.
O único senão talvez seja a capacidade limitada do depósito de 12 litros que condiciona a autonomia da moto a uns meros 200 Kms. A Katana original tinha uma capacidade de 22 litros mas gastava aos 100 Kms um pouco mais, pelo que em termos de autonomia quase que estão equiparadas. No peso sim a Katana 2020 com os seus 215 Kg leva quase 30 Kg de vantagem sobre a sua antecessora.
O PVP da Suzuki Katana 1000 é de 13.990 eur e está já disponível nos concessionáios da marca. A Suzuki conta vender cerca de 4.000 unidades a nível global no ano do seu lançamento.
Ficha Técnica
Motor |
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Tipo | 4 tempos, refrigeração liquida, DOHC |
Número de cilindros | 4 |
Diâmetro | 73.4 mm |
Curso | 59 mm |
Cilindrada | 999 cc |
Caixa de velocidades | |
Transmissão | 6 velocidades |
Chassis |
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Suspensão dianteira | Forquilha telescópica invertida |
Suspensão traseira | Mono amortecedor |
Travão dianteiro | Dois discos (ABS) |
Dimensões, peso e capacidade |
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Comprimento | 2125 mm |
Largura | 830 mm |
Altura | 1110 mm |
Distância entre eixos | 1460 mm |
Distância ao solo | 140 mm |
Altura do assento | 825 mm |
Peso total | 215 kg |
Depósito de combustível | 12 L |
Travão traseiro | Disco (ABS) |
Pneu dianteiro | 120/70ZR17M/C (58W), tubeless |
Pneu traseiro | 190/50ZR17M/C (73W), tubeless |
Concorrência
Honda CB 1100 RS 1140 cc / 99 CV / 252 Kg / 13.650 euros
Kawasaki Z900 RS SE 948 cc / 111 CV / 215 Kg / 13.145 euros
Triumph Thruxton Dual 1200 cc / 97 CV / 206 Kg / 13.800 euros
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