Teste da Energica Experia – A Experiência de Viajar no Futuro

By on 19 Julho, 2023

Com o mercado da mobilidade em plena transformação, consequência da pressão mundial no sentido de se diminuírem as emissões de gases de efeito de estufa e conter a evolução do aquecimento global do planeta temos vindo a constatar uma crescente aposta industrial em energias alternativas, ditas limpas, que não dependam do petróleo, no sector automóvel.

Nesse sentido, também o sector das duas rodas tem vindo a tentar adaptar-se às novas exigências em matéria de emissões e procurado desenvolver alternativas aos tradicionais motores térmicos. Se por um lado os veículos de 4 rodas têm vindo a superar, pela sua maior capacidade e dimensão, as limitações em termos de autonomia, ainda a lutarem com a falta de locais de carga rápida, já nas duas rodas tem sido complicado conjugar as diferentes variáveis, sobretudo em matéria de peso, autonomia e tempo de carga, razão pela qual temos assistido a um crescente número de modelos que chegam ao mercado com autonomias limitadas e que permitem uma utilização meramente urbana.

O fabricante italiano Energica, há cerca de 10 anos no mercado, tem vindo a ser pioneiro no desenvolvimento de motos com motorização elétrica que tentam desafiar o status quo e a conquistar o mercado com modelos que se batem directamente com as motos com motor de combustão nos segmentos de topo. No passado vimos a versão EGO da Energica, uma moto superdesportiva com prestações de Superbike, assumir o desafio de conquistar o sector da competição através do seu envolvimento directo no Campeonato do Mundo de MotoE, investimento que lhes permitiu desenvolver tecnologia e Know How no segmento das motos movidas a motores elétricos.

Recentemente foi-nos apresentada a sua última concepção, uma moto de perfil menos exigente, com uma estética que se assemelha a uma Adventure Sport ou, utilizando a nomenclatura das 4 rodas, um Crossover de duas rodas e que dá pelo nome de EXPERIA e, segundo a marca, a primeira Adventure Tourer do mercado a incluir tecnologia “Green”.

Primeiras impressões

O segmento de topo no sector das motos ainda está muito “verde” em matéria de oferta alternativa Green e assim de facto a Experia assume-se como a líder a solo de um segmento onde para já é a única representante ( nota: a Zero SLR tem prestações mais modestas e consideramos a mesma como uma moto mais próxima de uma Trail ). E num segmento Adventure tão populado de motos de todas as “cores e feitios” que satisfazem os mais exigentes “Petrol Heads” não será fácil para a Experia afirmar-se como uma verdadeira alternativa… Mas vamos por partes.

Tendo já testado a versão 01 da superdesportiva EGO, a nossa sensibilidade estava afinada para sermos confrontados com uma sensação do peso excessivo, derivado sobretudo do conjunto baterias/motor, quando manobramos a moto. Primeira surpresa foi precisamente essa, pois o novo conjunto montado na Experia veio contrariar totalmente esse anterior preconceito, mostrando uma moto perfeitamente equilibrada e com uma distribuição de massas muito acertada, parecendo-se em tudo a uma Sport Tourer de motor atmosférico.

A moto que nos foi cedida para teste vinha totalmente equipada com um conjunto de 3 malas em alumínio, realidade que reforçava a sua aparência Tourer e também a sua dimensão. Esteticamente bela, não fosse uma moto italiana, constatamos os seus bons acabamentos e linhas modernas e actuais, partilhando na sua frente o look que caracteriza o ADN da marca, em tudo semelhante ao da desportiva EGO.

A posição de condução é bastante natural, embora sintamos os poisa-pés ligeiramente recuados e muito próximos dos do pendura, sendo que o espaço para o mesmo é algo também prejudicado pela colocação da malas laterais. O para-brisas é suficientemente alto para dar uma boa proteção embora seja fixo e de secção algo espessa, pois em alguns ângulos chega a deformar a nossa visão sobre a estrada.

Todos os componentes têm extrema qualidade, sejam aqueles que são fabricados na Energica como os restantes de terceiras partes selecionados para integrar a Experia, como as suspensões Sachs, os travões Brembo e os comutadores que nos pareceram semelhantes aos adoptados pela MV Agusta e/ou Aprilia.  O assento é bastante ergonómico e estreito junto ao depósito embora a sua estrutura seja algo rígida, realidade que em viagem se fará notar.

Para além do nos ter surpreendido pela excelente distribuição de massas a Experia demonstrou ainda uma extrema agilidade, sobretudo quando conduzida em cidade a permitir-nos tirar partido com facilidade dos espaços entre os carros e apenas a sermos limitados pela largura das malas laterais.

Equipamento e Ajudas electrónicas

Sendo uma elétrica é de esperar que tudo o que esteja associado à sua electrónioca seja referência. Assim temos um painel TFT a cores de informação com 5” ( esperávamos algo mais ) que permite conectividade via Bluetooth à aplicação da Energica. 

Em termos de modos electrónicos contamos com 6 níveis de Controle de Tração, rodámos quase sempre a meio tendo em conta o enorme binário disponível desde os mais baixos regimes e também ABS em curva. Modos de motor são 7 dos quais 4 são pré- parametrizados, Sport, Urban, ECO e Rain, e outros 3 totalmente ajustáveis pelo utilizador. Contamos ainda com 4 modos de travão de motor que funcionam como regeneração das baterias.

Para além do já referido, a Experia conta com Cruise Control e punhos aquecidos, com 3 tomadas USB , sendo uma externa perto do painel de informação e duas internas, situadas dentro da tampa que simula o depósito e onde existe espaço para pequenos objectos ou equipamento electrónico. Outra ajuda que, do ponto de vista prático pode ser muito útil, é o acelerador elétrico a baixa velocidade, que inclui marcha atrás e marcha à frente, realidade que facilita as manobras. Algo que sentimos falta foi um travão de mão para imobilizar a moto, por exemplo numa descida e o descanso central para lubrificação da corrente ( a transmissão nesta moto é por corrente tradicional ).

O motor é capaz de acelerações “electrizantes”…  mas e a autonomia ?

O motor da Experia não tem o binário da EGO porém é também caracterizado pelas suas potentes acelerações transformando cada ultrapassem numa “brincadeira de meninos” não sem deixar perplexo quem é adiantado, tal a rapidez e o silvo emitido pelo motor.  Com cerca de 100 hp de potência máxima e cerca  80 hp de potência contínua, a Experia transmite-nos sensações de estarmos montados num reactor tal é o impulso que sofremos com o rodar mais decidido do punho de acelerador, chegando a atingir um pico de uns impressionantes 900 Nm de binário, colocando-nos de forma vertiginosa a velocidades que transpõem a ilegalidade, ainda que limitada a cerca de 180 Km/h de velocidade máxima.

Energica Experia – Energica Motor Company

Rodámos quase sempre no modo Urban pois pareceu-nos aquele que era o mais equilibrado no tacto de acelerador já que, tendo em conta o binário explosivo da Experia, entendemos que o modo Sport poderia levar a algum descontrole ou desconforto provocado por uma resposta ainda mais vigorosa. 

Numa utilização urbana e sub-urbana a Experia expressa toda a sua agilidade e desenvoltura sem que vejamos de forma drástica o consumo das baterias a baixar. No pára-arranca em cidade a capacidade de regeneração das baterias é notória sobretudo quando rodamos num nível alto de travão de motor que inclusivamente faz com que a utilização dos travões da moto não sejam obrigados a intervenções mais incisivas. Os Brembo estão lá para quando necessários e com facilidade e habitual bom desempenho lidarem com qualquer tipo de travagem necessária, no entanto o travão de motor dá uma pequena ajuda tornando tudo mais suave e em simultâneo regenera as baterias.

Energica Experia – Energica Motor Company

Em matéria de autonomia há que assumir que, apesar do máximo de cerca de 400 Kms que a marca afirma fazerem parte do processo de homologação a serem atingíveis em condições muito especiais, ( ex: rodar em ECO e nunca passar dos 90 Km/h e sobretudo em utilização urbana ), a realidade é uma pouco diferente. Por exemplo, no nosso caso, que rodámos essencialmente em tecido urbano e sub-urbano com alguns troços de auto-estrada entre Cascais e Lisboa, no dia que entregámos a moto após o teste realizado, tínhamos percorrido cerca de 160 Kms, tendo invado o mesmo com a moto com 100% de carga e tendo terminado com 34% de carga e autonomia para realizar 88 Kms extra. Ou seja, um total de 248 Kms de autonomia ( 160+88 Kms ). Ora, tudo leva a crer que em estrada aberta e em viagem essa realidade possa ser ainda mais penalizada e que a autonomia possa vir a descer para menos de 200 Kms. 

E a rodar será que a Experia pode bater-se com as Adventure atmosféricas ?

Como já comentámos anteriormente a Energica desenvolveu um extraordinário trabalho de emagrecimento desta nova geração de motos elétricas, certamente com o ganho de experiência adquirido na alta competição. O certo é que a Experia demonstra um enorme aprumo e agilidade na sua condução, porém longe de podermos afirmar de que possa constituir uma verdadeira alternativa ou ameaça às diversas motos Adventure de motor convencional a gasolina actualmente existentes no mercado. 

Os seus 260 Kg são de facto imperceptíveis e os travões Brembo capazes de gerir da melhor forma a inércia do seu peso nas travagens. As suspensões Sachs, muito utilizadas pela MV Agusta, são também referência no seu comportamento, embora o Setup com que vinham apresentasse alguma dureza e um desempenho algo seco no princípio do seu curso. Como são totalmente ajustáveis talvez essa realidade possa ser facilmente ajustada e ultrapassada ( nós não o fizemos ). 

Como já referido, as acelerações são o que mais nos surpreende e entusiasma e a Experia mostra que nesta matéria supera com facilidade as sensações que podemos extrair de uma moto equivalente em potência com motor convencional a gasolina. Apesar de criar habituação pela emoção que gera cada vez que rodamos o punho do acelerador, um outro pormenor obriga a alguma habituação pela negativa e que se torna algo “intrusivo” e certamente “cansativo” em viagem. Se por um lado temos a sensação de irmos sentados numa moto movida a uma energia algo espacial e futurística, tipo “Guerra das Estrelas ” por outro lado o silvo que o motor emite é por vezes demasiado agudo e difícil de suportar durante muito tempo. Uma coisa é certa, em cidade o espanto é geral e ninguém fica indiferente à nossa passagem, talvez até perplexos tal a rapidez com que passamos emitindo um ruído algo inexplicável para a maioria dos transeuntes. Se querem dar nas vistas a Experia gera toda uma atração á sua passagem.

Em conclusão

Não há dúvida que a Energica Experia representa todo um conjunto de novas tecnologias e propõe toda uma experiência repleta de novas sensações… certamente sensações que no momento ainda estranhamos, tendo em conta a nossa formação e experiência essencialmente como “Petrol Heads”. Porém, mantendo um espírito aberto e capacidade para sempre que necessário podermos “mudar o chip“, facto que vem com a necessidade habitual de testarmos todo o tipo de motos, podemos afirmar que rodar na Experia é ter uma verdadeira experiência e antevisão de um novo futuro que se aproxima.

Ao ser única no seu segmento e pioneira na alternativa que representa, na qualidade de Adventure Tourer “Green”, acaba por ser penalizada pelo seu preço de venda ao público de cerca de 31.000 euros na configuração testada. Ou seja, dificilmente, tendo em conta o seu preço e a sua autonomia, poderá constituir à data uma verdadeira alternativa às Adventure Tourers de características que poderemos considerar semelhantes ( em termos de potência, equipamento e ciclística ) que têm um PVP 50% mais baixo.

A Energica Experia afirma-se como uma opção futurística destinada a aqueles que se preocupam com a sua pegada ecológica ou pretendem exibir o último grito em termos de sofisticação tecnológica. O viajar obriga a algum planeamento para assegurar-nos dos carregamentos necessários e nesse aspecto a Energica Experia permite carregamentos rápidos a 50 Kw obtendo 80% da carga em cerca de 40 mnts. Para nos ajudar no planeamento existe uma App que identifica todos os postos de carga disponíveis a nível nacional e a sua situação operacional, de forma podermos planear as nossas viagens em antecipação ( App: Electromaps ).

Sugerimos que realizem um Teste Ride se estão realmente curiosos de conhecer de perto o futuro dirigindo-se à Watt Electric Moving no Parque das Nações, junto à Marina, para aqueles que vivam na região centro ou da grande  Lisboa.

Energica Experia – Energica Motor Company

Gostámos

  • Acabamento
  • Acelerações
  • Agilidade

A Melhorar

  • Autonomia tendo em conta ser uma Tourer
  • Suspensão dianteira
  • Écran dianteiro fixo
  • Silvo agudo do motor em determinados regimes

FICHA TÉCNICA

MOTOR

  • TIPO  Motor com Magnetos Permanentes Assistidos em Sincronia Relutante Motor (PMASynRM). 
    Liquid-Cooled 3-Phase com Controlador Adaptativo de Inversão
  • DC VOLTAGE   306V nominal
  • POTÊNCIA   60kW/80Hp at 7000 rpm – Peak: 75kW/102Hp at 7500 rpm
  • BINÁRIO  115 Nm – 900 Nm à roda
  • VELOCIDADE  Limitada a 180 km/h
  • ACELERAÇÃO  0-100 km/h: 3.5 sec
  • AUTONOMIA  Cidade: 420 km – Combinada: 256 km – Extra-Urban: 208 km – WMTC: 222 km

ELECTRÓNICA

  • MODOS  7 Modos: Energica 1-4 (Factory preset), Custom 1-3 (Customizable)
    4 Riding Modes: Eco, Urban, Rain, Sport + 3 configuráveis
    4 Regenerative Modes: High, Medium, Low, Off
  • PAINEL COBO, 5” IPS 1000 high resolution 848×480 TFT Color Display; 10 luzes de aviso com LEDs e icons; Sensor de luz ambiente e relógio
  • CONTROL TRAÇÃO 6 Níveis combinados c/ eABS e Cornering Bosch 9.3 MP
  • CRUISE CONTROL Cruise control utiliza travão eletrónico
  • ASSISTENTE Acelerador elétrico nas duas direções  (Slow speed)

BATERIA

  • CAPACIDADE  Max. 22.5 kWh / Nominal 19.6 kWh – lithium polymer
  • VIDA 1200 Cycles @ 80% Capacity (100% DOD)
  • RECARGA  DC Fast Charge Mode 4: 250 mph (400 km/h)
    Slow Charge Mode 2 or 3: 42 mph (63,5 km/h)
  • CARREGADOR   Onboard, 3.3 kW 90-264Vac 50/60Hz [1kW 90-177Vac range]. Conforms to Standards SAE J1772 and IEC 62196-2 with pilot signal for charging station interface
  • FUNÇÃO LPR    Long Period Rest: allows the maintenance and automatic balancing of the batteries during long period of non-use
  • INTERRUPÇÃO  AC and DC up to requested State Of Charge, AC and DC CCS charge completion with balancing, CHAdeMO 95% (depending on environmental conditions).

CICLÍSTICA

  • JANTES  Forjadas alumínio: front 3.5” x 17” / rear 5.5” x 17”
  • PNEUS Pirelli Scorpion Trail II (120/70-17 Ant/ 180/55-17 Post)
  • QUADRO Trelissa em alumínio / Aluminum side plates
  • BR. OSCILANTE Alumínio
  • SUSPENSÃO D. F SACHS – Ø43mm totalmente ajustável; curso 150mm. 
  • SUSPENSÃO T.  ZF Sachs – Ø55mm, totalmente ajustável curso 150mm.
  • TRANSMISSÃO Corrente
  • TYRAVÃO D. Brembo, Duplo disco, Ø330 mm, 4 Pistons Pinça Radial
  • TRAVÃO T.  Brembo, Single Disc, Ø240 mm, Pinça 2 Pistons
  • ABS  Cornering Bosch 9.3 MP

DIMENSÕES

  • ALTURA   1461mm (mirrors not included)
  • ASSENTO 847mm 
  • LARGURA. 867mm 
  • COMPRIM. 2132mm 
  • DIST. EIXOS 1513mm 
  • PESO. 260 kg

GARANTIA

  • 2 Anos na Moto
  • 3 anos ou 50.000 kms na bateria
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